Devaneios

Nunca desejou tanto não estar ali naquele momento. Queria colo, mais do que nunca, mas a única coisa que a confortava era saber que alguém em algum lugar pensava como ela. Chegou em casa, jogou a bolsa no sofá, bateu a porta do seu quarto, se trancou. Nada mais existia lá fora, o seu universo naquele momento se resumia a ela e ao seu travesseiro, nele suas lágrimas eram absorvidas de forma tão penetrante e suave. Pensou por um momento como seria se ela não existisse mais, se ela fosse embora, se ela jogasse tudo pro alto. Se levantou, encarou-se no espelho, olhou profundamente o seu reflexo, e viu uma face que transparecia uma angústia, uma vontade de se libertar, se permitir, se entregar cegamente aos seus desejos. Suas lágrimas se misturavam com a maquiagem escura, o rímel escorria pelas suas maçãs, suas lágrimas eram negras como o seu estado emocional. Sinto dó dessa pobre garota, incompreendida... No fundo ela só precisava de colo. Derrepente, ouviu uns ruídos pela casa, enchugou o seu rosto rapidamente, não queria que ninguém sentisse pena dela. Fez cara de paisagem, como se não houvesse acontecido nada. Escondeu seu travesseiro confidente, só ele sabia das suas aflições. Foi conferir de onde surgira aqueles ruídos que a fizeram interromper o seu estado de melancolia. Respirou fundo... Não estava esperando ninguém. Seus olhos inchados viram uma miragem, não esperava que algo daquele tipo pudesse acontecer naquele momento. Segundo ela ninguém seria capaz de tirá-la daquele mar de tribulações tão profundo. Mas no canto do sofá, estava ele ali, a encarando com aqueles olhos castanhos, devorando-a, com a sua inconfundível barba mal feita, seus cabelos assanhados e com aquela velha camiseta surrada. Ela olhou pro seu interior, jogou todas suas aflições pela janela e se atirou nos braços daquele que com certeza pensava como ela.

Beijos adocicados...











Mell Brandão